Gírias de Cozinha Profissional: Marchando, Rasgueiragem e o Vocabulário Real da Linha de Fogo

Você conhece as gírias de uma cozinha profissional? Se você já teve a chance de espiar o que acontece por trás da porta de uma cozinha profissional, deve ter se deparado com uma cena curiosa como: gritos, códigos, expressões estranhas. “Marchando!”, “Atrás!”, “Sim, chefe!”, parece até outra língua, né?

No entanto, não é bagunça. Essas gírias são essenciais para a cozinha funcionar com precisão e segurança. Mas, vamos entender melhor de onde vem esse “idioma secreto” e por que ele é tão importante.

Comunicação rápida salva o serviço

Num restaurante cheio, o tempo é precioso. Portanto, não dá para fazer discursos longos na hora de avisar que tem uma panela fervendo nas costas ou que um prato precisa ser enviado correndo para o salão.

Por isso, os cozinheiros criaram um conjunto de gírias que resumem ações complexas em uma ou duas palavras. Cada termo é como uma ordem rápida, evitando confusões e garantindo que todos estejam sempre na mesma sintonia.

Além disso, essas expressões criam um sentimento de equipe e identidade — quem entende e fala o “idioma da cozinha” se sente parte da engrenagem.

As principais gírias usadas na cozinha profissional

A seguir, vamos conhecer as gírias mais comuns (e suas variações) usadas no calor do serviço:

Gírias de segurança

  • Atrás: Estou passando atrás de você. Não recue sem olhar!
  • Atrás quente: Estou passando com algo muito quente.
  • Atrás pesado: Estou passando com algo muito pesado.
  • Canto / Quina: Estou chegando na curva. Fique atento para evitar colisões.

Essas expressões evitam acidentes graves, já que cozinhas são espaços apertados, com calor intenso e muita movimentação.

Gírias de operação

  • Marchando: Pedido autorizado a entrar na produção.
  • Marcha e sai: Pedido que deve ser produzido e enviado imediatamente para o salão.
  • Na praça: O prato está finalizado e pronto para ser retirado.
  • Cantar: Ler os pedidos em voz alta para a equipe de montagem.

Ou seja, essa dinâmica de “cantar”, “marchar” e “praça” organiza o fluxo dos pratos, especialmente em horários de pico.

Gírias para situações especiais

  • 86: Um prato ou ingrediente acabou. Retirar do menu ou informar ao salão.
  • Nadar / Nadando: Cozinheiro atrasado ou embolado com os pedidos, precisando de ajuda.
  • Fumo: Levar bronca. Quando o serviço sai do controle, o “fumo” vem!

Assim, essas expressões também ajudam a antecipar problemas antes que se agravem.

Gírias do dia a dia da cozinha

  • Rango de funça: A comida feita para os funcionários da casa.
  • Pauleira: Dia muito movimentado, produção intensa e cansativa.
  • Rasgueiragem: Sabotagem de qualidade, fazendo atalhos ruins em preparações (tipo botar creme de leite no risoto, em vez de fazer direito).
  • Puxar: Realizar a pré-produção de um prato ou preparação específica.

Portanto, essas palavras mostram a realidade da cozinha: intensa, adaptável e, às vezes, cheia de improviso.

Gírias de cozinha “sonoras” e divertidas

  • Xablau: Dar uma pitada extra de tempero ou fazer uma ação rápida, como selar algo rapidamente.
  • Pa-pow: Executar uma ação muito rápida, em poucos segundos.
  • Tsss-tsss: Selar uma proteína no fogo alto, fazendo aquele barulhinho clássico.

Inclusive, essas expressões deixam o ambiente mais leve, mesmo em meio ao caos do serviço.

E o famoso “Sim, Chef”?

Não importa o que esteja sendo dito: “Sim, Chef” é a resposta padrão. É o sinal de que você entendeu a ordem e está agindo, mesmo que internamente esteja questionando o universo.

Assim, reconhecer a instrução imediatamente evita retrabalho e acelera o fluxo da cozinha.

De onde surgem essas gírias?

Grande parte dessas expressões vem da herança militar da brigada de cozinha. Auguste Escoffier, no século XIX, estruturou a cozinha como um exército: com hierarquias, funções claras e comunicação objetiva.

Com o tempo, os cozinheiros adicionaram suas próprias gírias locais, regionais e culturais, misturando francês, inglês, espanhol e muito “cozinhez” brasileiro.

Dessa forma, o idioma da cozinha é vivo, evolui o tempo todo e se adapta a cada ambiente.

Por que é tão importante dominar esse “dialeto”?

Saber e usar essas expressões corretamente:

  • Aumenta a velocidade do serviço;
  • Evita acidentes graves;
  • Cria coesão e respeito entre a equipe;
  • Ajuda novatos a se integrarem mais rápido.

Além disso, falar como a brigada fala é um sinal de respeito, mostrando que você entende a cultura da cozinha e está jogando junto.

Leia também:
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Cozinha de hamburgueria: como montar, equipar e otimizar

Como aprender as gírias da cozinha?

Não existe apostila. Aprender o idioma da cozinha é imersão total.
Mas aqui vão algumas dicas práticas:

  • Ouça mais do que fala nas primeiras semanas.
  • Observe as reações de quem já é da casa.
  • Pergunte sem medo quando não entender uma expressão.
  • Use as gírias com naturalidade, sem forçar.

Assim, com o tempo, você vai perceber que já está gritando “Marchando 3 parmegianas, canta o último pedido, atrás quente, marcha e sai na linguiça! (lá ele)”, sem nem se dar conta.

Conclusão: falar como a cozinha fala é ser parte do time

As gírias de cozinha podem parecer só brincadeira para quem vê de fora. No entanto, para quem está lá dentro, são ferramentas essenciais para que tudo funcione.

Elas carregam a cultura, o ritmo e a alma da profissão. Um “marchando” bem dado, um “atrás quente” gritado na hora certa, podem salvar um serviço — ou evitar uma queimadura feia.

Portanto, da próxima vez que ouvir um “pa-pow” ou um “xablau” ecoando na cozinha, sorria. Você acabou de testemunhar a música secreta que move os bastidores da gastronomia.

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Fabricio Eller

Fabrício Eller é Chef de Cozinha e fundador do Casebre do Jack, restaurante referência em carnes na brasa. Compartilha sua vivência na cozinha profissional nas redes sociais e no site Cozinha Base, onde publica conteúdos sobre gastronomia, gestão e negócios ligados ao setor. 

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Fabrício Eller é Chef de Cozinha e fundador do Casebre do Jack, restaurante referência em carnes na brasa. Compartilha sua vivência na cozinha profissional nas redes sociais e no site Cozinha Base, onde publica conteúdos sobre gastronomia, gestão e negócios ligados ao setor. 

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Fabricio Eller é chef de cozinha e fundador do Casebre do Jack, restaurante referência em carnes na brasa. Compartilha sua vivência na cozinha profissional nas redes sociais e no site Cozinha Base, onde publica conteúdos sobre gastronomia, gestão e negócios ligados ao setor.

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