A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre a carne bovina brasileira pegou o setor de surpresa e já provoca mudanças rápidas na cadeia produtiva. Grandes frigoríficos começaram a reavaliar os embarques e, em alguns casos, até suspender a produção destinada ao mercado norte-americano. As incertezas crescem, e o futuro das exportações está cada vez mais nebuloso.
Frigoríficos Reavaliam Embarques
De acordo com Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), a imposição da nova tarifa levou muitas empresas a interromper negociações. “Os novos embarques estão em análise pelo setor privado por causa do aumento nos custos”, afirmou.
A medida é especialmente sensível porque os Estados Unidos representam o segundo maior mercado para a carne bovina brasileira, atrás apenas da China. Dados comerciais indicam que o Brasil responde por cerca de 23% das importações de carne bovina dos americanos. Assim, qualquer interrupção pode ter impacto direto tanto nas exportações quanto na produção interna.
Além disso, o anúncio da tarifa provocou um efeito imediato no mercado doméstico. Alcides Torres, consultor da Scot Consultoria, relatou que os frigoríficos reduziram drasticamente as compras de gado. “O mercado esfriou de uma hora para outra”, explicou. Para ele, essa retração reflete o temor de prejuízos caso a tarifa seja mantida.
Empresas Suspendem Produção e Reorganizam Estoques
Enquanto o prazo final para implementação da tarifa se aproxima, as empresas correm para minimizar riscos. A Minerva Foods, uma das maiores exportadoras brasileiras, informou que cerca de 5% de sua receita líquida vem das vendas de carne aos Estados Unidos. Depois do anúncio, a companhia optou por não comentar o assunto, mas analistas apontam que ela já tinha tomado medidas preventivas.
Segundo relatório da Genial Investimentos, divulgado em maio, a Minerva acelerou o abate de bovinos e antecipou o envio de volumes expressivos de carne para seus centros de distribuição nos Estados Unidos. Essa estratégia buscava reduzir eventuais perdas caso novas tarifas fossem impostas. Apesar disso, fontes do mercado indicam que parte dos contratos pode ser renegociada ou até cancelada.
Outros frigoríficos também começaram a redirecionar embarques para destinos alternativos, como Europa e Ásia. Ainda assim, essa mudança não é simples. Os contratos firmados com clientes americanos costumam ter volumes altos e exigem logística complexa. Com isso, nem todas as empresas conseguem se adaptar no curto prazo.
Efeitos no Preço e na Oferta de Carne
A nova tarifa de 50% chega em um momento em que os Estados Unidos enfrentam escassez de gado, fator que vinha aumentando a demanda pela carne bovina brasileira. Ao impor a taxação extra, o governo Trump sinaliza que pretende restringir parte dessas importações. Entretanto, analistas apontam que os maiores prejudicados serão os consumidores americanos.
Se o Brasil reduzir ou suspender o envio de carne, o preço do produto deve subir nos supermercados e restaurantes. Isso porque outros fornecedores globais dificilmente conseguem suprir a demanda americana com a mesma rapidez. O risco de encarecimento já preocupa importadores e distribuidores.
Além disso, o movimento pode ter reflexo indireto em outros setores do agronegócio. Exportadores de milho, soja e café acompanham de perto a situação, temendo que novas tarifas sejam anunciadas e que o fluxo de comércio com os Estados Unidos se torne mais instável.
Incerteza e Expectativa por Acordos
Por ora, não há clareza sobre possíveis negociações para suspender ou reduzir a tarifa. Representantes da ABIEC afirmam que seguem monitorando o cenário e que, apesar do impacto imediato, ainda há expectativa de diálogo entre governos e empresas.
No entanto, mesmo que algum acordo surja, muitos frigoríficos já estão revisando contratos e ajustando a produção para outros mercados. A tendência é que, nas próximas semanas, embarques previstos sejam reavaliados caso o governo americano não apresente uma alternativa.
Com a tarifa programada para vigorar em 1º de agosto, empresas brasileiras e importadores americanos têm poucos dias para decidir como irão agir. Até lá, o setor vive um clima de incerteza e apreensão.
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Fonte: Reuters
